Sinta-se em casa! Não costumo publicar diariamente, mas só quando sobra um tempinho e tenho inspiração para um tema interessante. Sou perfeccionista e todos os textos são resultados de pesquisas, cujas fontes são sempre informadas. Divirta-se, critique, indique...

quarta-feira, 11 de maio de 2011

HERANÇAS DA MONARQUIA

Em época de casamento real na Inglaterra, o mundo se vira para a impossível realidade dos contos de fadas (impossível para a esmagadora maioria, claro). Todos imaginam o luxo e a ostentação dos palácios reais, a mobília, as tapeçarias, as porcelanas, pratarias e cristais. No entanto poucos imaginam que, no Brasil, tivemos uma das famílias reais mais respeitadas do mundo ocidental, isto no séc. XIX. Dom Pedro I, nosso primeiro imperador, foi admirado em sua época como um dos mais valentes e preparados monarcas do mundo, tendo inclusive sido convidado a ocupar o trono da Grécia, da Espanha e daquela que seria chamada de Ibéria (resultado da união entre Espanha e Portugal): recusou todas as propostas.

A vinda de Dom João VI e de toda a corte portuguesa para o Brasil, em 1808, resultou num grande avanço social e urbano, principalmente nas grandes cidades da época, como Salvador e Rio de Janeiro. A arquitetura da então colônia, agora sede da coroa portuguesa, adaptou-se para dar ares de realeza à altura dos nobres que acompanharam D. João VI e sua esposa, a espanhola Carlota Joaquina. Destas mudanças resultou um patrimônio histórico e arquitetônico riquíssimo, que pode ser visitado em várias partes do Brasil. No entanto as construções utilizadas como residência oficial da Família Imperial restringem-se apenas à Capital do Império, a cidade do Rio de Janeiro, e à cidade escolhida para ser o local de veraneio da realeza, Petrópolis. 

Para começar, nada mais justo que o palácio que se tornou sede oficial na coroa portuguesa no Brasil: a Quinta da Boa Vista.

No início do século 19, a área chamada Quinta da Boa Vista, um tanto distante do então centro da cidade, pertencia a um rico comerciante Português, chamado Elias Antônio Lopes, que adquiriu um dos lotes, e lá ergueu um casarão em 1803, onde era chamado de "Chácara do Elias". Este casarão dava uma bela vista para a Baía da Guanabara, e daí vem o nome Quinta da Boa Vista. Apesar de não muito usual no Brasil, o termo Quinta em Portugal significa propriedade rural.
Com a mudança de Dom João VI ao Brasil, em 1808, este instalou-se no Paço Real que depois seria chamado Paço Imperial na Praça XV do Rio de Janeiro, que era até então a morada do Vice-Rei. Talvez por motivos de recebimento de favores políticos ou por falta de opção, o comerciante então resolveu doar seu casarão à D. João VI que aceitou a propriedade. Devido à falta de moradias na cidade, diz-se que muitas casas eram confiscadas para uso da corte.

Paço de São Cristóvão, Quinta da Boa Vista - Rio de Janeiro, Brasil.

A Quinta da Boa Vista é um enorme complexo de lazer do Rio de Janeiro, que inclui grandes jardins, da época do império, o Jardim Zoológico, lagos e o Museu Nacional de História Natural, que funciona no palácio. Infelizmente, por descaso do poder público, o lago da Quinta da Boa Vista está entre os mais poluídos do Brasil, conforme pesquisa feita pela Fundação SOS Mata Atlântica e divulgada em 07/01/2011 pelo Jornal Nacional, da Rede Globo.

Outro importante exemplo é o Paço Imperial, na Praça XV, citado anteriormente, e moradia oficial da família real portuguesa antes da mudança para a Quinta da Boa Vista.

O prédio que viria a ser o Paço Imperial foi ocupado pela primeira vez, em 1743, pelo Governador Gomes Freire de Andrade, o Conde de Bobadela, que havia ordenado ao engenheiro militar José Fernandes Alpoim a construção de uma nova Casa dos Governadores para sediar o governo das capitanias do Rio de Janeiro e de São Paulo. Alpoim aproveitou os edifícios preexistentes no local, a Casa da Moeda e o Armazém Del Rey, acrescentando dois pisos novos que resultaram em uma sóbria construção em alvenaria caiada de branco, com molduras nas janelas em pedra de cantaria e vários pátios por onde se fazia a circulação. Na entrada principal, uma bela portada de mármore de lioz dava acesso ao piso superior. De aspecto imponente em relação às edificações vizinhas, em pouco tempo, o prédio converteu-se em centro da política local e regional, bem como do comércio. Até 1808, a Casa da Moeda e o Real Armazém continuaram a funcionar no andar térreo.
Fonte: http://www.pacoimperial.com.br/historico.aspx


Foto de Paulo Salles: Paço Imperial

O Paço Imperial não tem ares de palácio da realeza, mas deve-se imaginá-lo com grandes jardins no seu entorno, que foram sendo reduzidos com o passar dos anos até serem totalmente eliminados.

Paço Imperial - Pçaça XV de Novembro, Rio de Janeiro

Com a abertura dos portos brasileiros, uma enxurrada de produtos europeus começou a inundar o comércio carente das cidades do império. O centro da então capital passou a se desenvolver e a crescer com a abertura de diversos estabelecimentos comerciais, que ofereciam os tão cobiçados produtos europeus, tão distantes da realidade brasileira.
[...] os franceses passaram a trazer produtos mais finos que eram absorvidos pela alta Corte; os portugueses trabalhavam duro, de sol a sol, querendo ficar rico rapidamente, mas o trabalho pesado era executado pelos negros escravos. A Rua do Ouvidor – Rua das Flores – Travessa do Ouvidor _ Rua Nova do Ouvidor - foram sendo ocupadas pelos franceses com restaurantes, confeitarias, cafés, casas de artigos de vestiário, modistas, decoradores, barbeiros, cabeleireiros, e lojas de artigos finos. A grande força do comércio dos franceses fez com que a Praça XV ficasse praticamente nas suas mãos. Pharoux, um rico comerciante francês, que já tinha no local um grande hotel, recebeu a concessão para modernizar e explorar o Cais. Como os navios tinham que fundear ao largo, pois o Cais não tinha condições de receber qualquer tipo de navio, os passageiros tinham que vir em pequenas embarcações do navio até o cais e podiam gozar de maior conforto se hospedando no Hotel Pharoux. Fonte: Jorge Mitidieri, disponível em http://www.riototal.com.br/riolindo/tur032.htm
O Hotel Pharoux foi inaugurado em 1838 e, por muitos anos, foi um dos mais luxuosos hotéis do Rio de Janeiro:


Outro palácio extremamente importante é o Palácio de Petrópolis, atual Museu Imperial.

Localizado no antigo Palácio Imperial, a residência preferida de D. Pedro II, mandado construir em 1845 pelo Imperador e dado por concluído em 1864. A construção em estilo neoclássico é considerada relativamente simples, para residência de soberanos, mas perfeitamente adaptada à função de casa de campo, sem deixar de ser elegante. Possui um corpo central de dois pavimentos e um terraço sobre o pórtico e duas alas dotadas cada qual de 12 janelas. Na fachada central, figuram as armas do Império. (...) Foi construído com recursos particulares do Imperador, nas terras da Fazenda do Córrego Seco, herdadas de seu pai, D. Pedro I que sonhou ali construir seu Palácio de Verão, o Palácio da Concórdia. Foi construído solidamente com largas paredes de pedra com madeira de lei procedentes de várias regiões do país. Seus jardins planejados pelo botânico Jean Baptiste Binot com orientação pessoal de D. Pedro II conservam até hoje suas características, com variedade de espécies botânicas originais, estátuas gregas, fontes e repuxos.
Fonte: http://www.petropolis.rj.gov.br/


Museu Imperial de Petrópolis

Petrópolis, aliás, possui o maior e mais rico acervo histórico do período Imperial. Por ter sido escolhida pela Família Imperial como local de veraneio, vários outros políticos e pessoas influentes da corte também lá construíram seus palacetes. Um bom exemplo é o Barão de Guaraciaba, negro, fazendeiro de café como muitos outros do Vale do Paraíba:

(...) Francisco Paulo de Almeida. Único titular do império que tinha sua tez negra, título agraciado em 16 de setembro de 1887, poucos meses antes da libertação dos escravos, foi também um dos mais interessantes e curiosos homens de nossa história. Homem de grande cultura, escolheu para casar-se com uma jovem branca, de família tradicional valenciana, e se esmerou em dar aos seus onze filhos uma educação refinada. Sabe-se ainda que foi grande comerciante. (...) Sua inteligência o levou a uma escalada de ascensão social, e tudo fez para ficar mais próximo da cidade imperial, quando em 1891, adquiriu o palacete da família Mayrink, localizada em frente ao palácio imperial de Petrópolis.
O palacete em questão é o Palácio Amarelo, em Petrópolis, construído por José Carlos Mayrink da Silva Ferrão em 1850. Atualmente o edífício é a sede da Câmara Municipal de Petrópolis.

Palácio Amarelo

Petrópolis possui ainda inúmeros exemplares de palácios e palacetes que remontam ao Brasil Imperial. Alguns membros da Família Imperial ainda residem no Palácio do Grão-Pará, em Petrópolis, utilizado na época como casarão dos empregados da família imperial. Merecem destaque ainda:
  • Casa da Princesa Isabel - pertenceu ao Barão do Pilar e foi vendida à Princesa Isabel e ao Conde d'Eu em 1876, onde moraram até a Proclamação da República;
  • Palácio Rio Negro - construído pelo Barão do Rio Negro em 1889 - Residência Oficial de Verão da Presidência da República;
  • Casa da Ipiranga - casarão em estilo vitoriano de 1884;
  • Solar Dom Afonso - construção de 1875 onde funciona hoje o Hotel Solar do Império.
Mas não só Petrópolis e Rio de Janeiro foram agraciados com palácios e palacetes da época do Império. Os casarões dos barões do café espalharam-se por todo o Vale do Paraíba e interior do Estado de São Paulo, mas este também será tema de outra postagem. Então até a próxima!

domingo, 10 de abril de 2011

HOSPEDAGEM EM CASTELOS

Existem hotéis luxuosos em qualquer lugar do mundo, porém existem aqueles que se destacam não somente pelos serviços e facilidades oferecidos, mas também pela sua arquitetura, história, localização e principalmente pela aura de luxo, pompa e ostentação, a exemplo dos castelos europeus.

Desde pequenos somos condicionados a admirar a realeza e isto se deve ao fato de termos escutado, ou lido na infância, estórias de príncipes encantados, princesas injustiçadas e castelos de torres pontiagudas. Quem eram Branca de Neve, Rapunzel e Bela Adormecida, senão princesas?

A realeza européia perdeu seu poder com o passar dos anos, principalmente na primeira metade do séc. XX, e muitos nobres tiveram que aprender a viver dos seus negócios e do próprio trabalho. Muitas propriedades foram vendidas, muitos barões, duques, condes e viscondes foram à bancarrota, sem falar em príncipes e outros nobres que dilapidaram seus patrimônios levando uma vida que não condizia mais à posição que ocupavam na sociedade. Tinham apenas o título de nobreza e isto, por si só, não colocava o pão na mesa.

Neste contexto, muitos castelos e palácios europeus acabaram se transformando em meios de hospedagem, em tempo integral ou em apenas uma pequena parte do ano. Alguns remontam ao séc. VI d.C. e outros são muito mais novos, do início do séc. XX. Mas todos têm em comum a história, os ambientes luxuosos e, em alguns casos, mobília de época.

Um bom exemplo é o Castelo de Mercuès, antiga residência dos bispos de Cahors, que remonta ao séc. XIII, de propriedade da família Vigouroux, uma das mais tradicionais famílias francesas no que se refere à produção de vinhos Malbec. O Château de Mercuès está localizado no sudoeste da França, entre Limoges e Toulouse, e é um dos muitos exemplares de castelo de arquitetura medieval transformado em hotel. Para mais detalhes, consulte http://www.relaischateaux.com/.

Château de Mercuès – Relais & Chateaux.

A Relais & Chateaux, aliás, é uma empresa que associa hotéis luxuosos do mundo inteiro. Sua atuação remonta a 1954 quando começou agregando vários castelos europeus que ofereciam ambientes únicos e gastronomia de qualidade superior. Hoje a Relais & Châteaux tem cerca de 475 hotéis e restaurantes associados em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Outro bom exemplo de associação de castelos utilizados como meios de hospedagem é a Chateau Accueil – French Way of Life (http://www.frenchwayoflife.net/). Ao visitar o site, o usuário poderá escolher, entre outros detalhes, o título de nobreza de seus proprietários, como por exemplo a Princesa Anne-Marie Kayali, do Château du Mesnil Geoffroy.

Château du Mesnil Geoffroy – French Way of Life

Recentemente foi divulgada a abertura do luxuoso Hotel L’Orangerie, vizinho ao Palácio de Versalhes, o mais conhecido palácio da corte francesa, utilizado como residência oficial dos reis da França. O L’Orangerie ocupará o antigo Hôtel du Grand Controle, edifício construído em 1680 e utilizado como residência oficial e escritório dos tesoureiros da realeza francesa.  Já que é impossível hospedar-se no Palácio de Versalhes, pois hoje em dia é um dos museus mais famosos do mundo, o L’Orangerie será uma opção para quem se dispuser a pagar a bagatela de cerca de R$ 1.400,00 por uma noite. Se analisarmos os preços de alguns hotéis brasileiros, o preço não é tão “salgado”. Vale uma noite! O hotel leva este nome devido aos “famosos e belos jardins da l’Orangerie, onde o rei Luís XIV cuidava de suas laranjeiras e palmeiras durante o inverno” .

L’Orangerie – Foto de DerSIGGY

Mas não são somente os castelos e palácios franceses que foram transformados em hotéis luxuosos. Alemanha, Áustria, Suíça e até mesmo países nórdicos têm bons exemplos. O Castelo Lerbach foi muito divulgado na mídia nacional por ter hospedado a Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. O castelo é uma construção do séc. XIX e sua arquitetura é um exemplo de estilo inglês vitoriano; está localizado nos arredores da cidade de Colônia.

Castelo de Lerbach

Mas quem pensa que a hospedagem neste tipo de hotel é extremamente cara está enganado. As diárias estão entre 100€ e 500€ (100 e 500 euros) ou cerca de R$ 250,00 a R$ 1250,00 – nada muito diferente da maioria dos hotéis na Europa, até mesmo dos urbanos de cerca de 4 estrelas. Claro que os preços variam conforme a importância histórica, a localização, a estrutura e os serviços inclusos.

Alguns edifícios classificados como castelos não têm a aparência esperada dos contos de fada, com fossos, pontes levadiças, torres, masmorras e demais itens que povoam o imaginário popular, a exemplo do Castelo de Neuschwanstein, o mais perfeito e mais bonito castelo que se tem notícia:

O Novo Cisne foi construído em 1866, quando já não era necessário construir fortes estratégicos, de modo que Luís II, o rei louco, construiu um castelo de fantasia como residência idílica. Um espectacular monumento dos tempos modernos que participou na eleição das novas maravilhas do mundo. O sítio onde se localiza, na região da Baviera que faz fronteira com a região austríaca do Tirol, emoldura a construcção numa decoração wagneriana; e mais, a influência do compositor alemão na romântica mente do monarca é absoluta, tanto que Richard Wagner foi convidado perpétuo do castelo que, no seu interior, está decorado apenas com pinturas e tapeçarias de óperas do compositor, inclusive uma parte representa uma falsa caverna também de uma ópera de Wagner. O Conselho do monarca tentou aconselhar o Rei Luís e reduzir as suas extravagâncias, mas a sua amizade com Wagner, a nunca discutida identidade sexual do rei, cujos seguidores no castelo consistiam apenas de homens, e sua lânguida existência nocturna, na que recebia audiências rodeado de velas e incensos e outros produtos "mais populares", facilitaram o seu destronamento e o seu tenebroso assassinato a tiro num lago.

Castelo de Neuschwanstein – Alemanha

Alguns dizem que este castelo inspirou Walt Disney para a idealização do castelo da Cinderela, nos desenhos animados e nos parques temáticos. Mas infelizmente este não é um hotel. Imaginem se fosse?

Mas existem diversos exemplos, oriundos de culturas distintas. Edifícios com diversas utilidades e com histórias intrigantes podem ser encontrados em vários países do mundo. Na Suécia, um bom exemplo é o Häckeberga Slott, construído no séc. XIV e que recebeu o famoso botânico Carl von Linné no séc. XVIII, cujos escritos fazem grandes elogios ao local.

Häckeberga Slott – Suécia

Indo mais longe na história, o Hotel La Badia, na Itália, funciona no edifício que foi um monastério medieval construído no séc. VI d.C. e que foi utilizado como residência oficial de cardeais e papas da igreja católica num passado remoto. Os atuais proprietários, os Condes de Fiumi de Sterpeto, descendentes diretos de Santa Clara de Assis, restauraram o edifício presevando suas características originais e o transformaram em hotel e restaurante.

Hotel La Badia – Úmbria, Itália

Mais próximo do ideário de castelo está o Parkhotel Wasserburg Anholt, na Alemanha. Circundado por um fosso, o acesso ao castelo é feito por pontes. O castelo foi parcialmente destruído na Segunda Guerra Mundial e, entre 1990 a 2000, foi reconstruído por seu proprietário, o príncipe Carl Phillipp de Salm-Salm. A família do príncipe adquiriu a propriedade em 1645 e desde 1815 este tornou-se o lar oficial da família. A torre do castelo data do séc. XII e algumas alterações na planta original foram feitas posteriormente, nos séculos XIV e XVIII. Os jardins do castelo são de estilo barroco e datam de 1860. As diárias variam de 85 a 300€ (do mais simples ao mais luxuoso). 

Parkhotel Wasserburg Anholt – Alemanha

Outro exemplo é o Hostal de los Reyes Católicos, em Santiago de Compostela, Espanha, construído no séc. XV sob a supervisão pessoal dos reis da Espanha (Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela) para ser um hospital para os peregrinos em viagem a Santiago de Compostela. Hoje é um dos cinco hotéis mais caros da Espanha.

Hostal de los Reyes Católicos – Santiago de Compostela – Espanha

São tantos os hotéis históricos que vou me limitar a apenas mais um exemplo: a Pousada Castelo de Óbidos, em Portugal:

A Vila de Óbidos foi, conquistada aos Mouros por D. Afonso Henriques em 1148, foi doada por D. Dinis a sua mulher, Rainha Santa Isabel, ficando desde então pertença da Casa da Rainhas.
No inicio do século XVI, D. João de Dijon e alcaide da vila, introduz-lhe significativas alterações em estilo Manuelino, que ainda hoje são bem visíveis, caso das janelas do restaurante da pousada, apesar da destruição parcial provocada pelo terramoto de 1755.
Fonte: http://www.portugalvirtual.pt/pousadas/obidos/pt/index.html

Os preços de hospedagem na histórica Pousada Castelo de Óbidos vão de 155€ a 250€ (cerca de R$ 450 a R$ 700,00).

Pousada Castelo de Óbidos – Portugal
Fonte:http://www.regiaodeleiria.pt/wp-content/uploads/2010/11/Castelo_de_Óbidos.jpg

No Brasil não temos castelos ou palácios transformados em hotéis, portanto quem quiser terá que viajar para outros países, preferencialmente para a Europa. No entanto existe uma tendência nacional em transformar edifícios históricos em meios de hospedagem, principalmente as velhas e históricas fazendas de café do Vale do Paraíba, nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, mas este será tema para outra postagem... em breve! Até la!

quarta-feira, 2 de março de 2011

TELENOVELAS E TURISMO

Antes mesmo de escrever a primeira linha deste texto, tive mais uma comprovação – just in time – das propagandas veiculadas nas telenovelas brasileiras: acabou de acontecer uma na novela Ti ti ti... a patricinha Camila, muito bem interpretada pela atriz Maria Helena Chira, falou em alto e bom tom ao Érico: EU FAÇO MODA NA FAAP[1]. Além do texto, várias cenas são ambientadas na renomada faculdade da capital paulista. Este é apenas um exemplo das diversas formas que a telenovela brasileira arranjou de ganhar uma graninha extra que, sinceramente, não sei se vai para o autor ou para a rede televisiva.

Há muito tempo o público assiste aos enredos que mostram paisagens belíssimas fora do eixo Rio-São Paulo. Quem não se lembra das praias do Ceará, exibidas na novela Tropicaliente em 1994? A própria novela Araguaia comprova, pois além das praias do Rio Araguaia, já foi mostrada a cidade de Pirenópolis, incluindo seus atrativos culturais.

Em Senhora do Destino, Maria do Carmo fugiu de Belém do São Francisco, no Pernambuco, passando por locais belíssimos até chegar ao Rio de Janeiro. No final da novela a inesquecível psicopata Nazareth Tedesco se matou ao pular de uma ponte sobre a Cachoeira de Paulo Afonso. Agora, mais uma vez, a região será palco de uma nova novela da Rede Globo: Cordel Encantado.

Segundo o diretor da Secretaria de Turismo de Piranhas, Jairo Oliveira, o processo de negociação para vinda da novela começou no mês de novembro de 2010 com visitas e apoio logístico da SECTUR Piranhas e do gestor do APL de Turismo Caminhos do São Francisco, Meraldo Rocha.
(...)
Para Danielle Novis, secretária de Estado do Turismo de Alagoas, “com as gravações, a Região do São Francisco fortalecerá o turismo local, além de dinamizar os serviços/produtos e promover os atrativos, como: belezas naturais, artesanato, cidades históricas, roteiros integrados como Rota do Cangaço e Caminhos do Imperador, todos receberão visibilidade e a região vai ganhar, movimentando a economia local, gerando emprego e renda”.[2]

Os exemplos são inúmeros e merecem um estudo mais aprofundado. Mas não são só os exemplos nacionais que merecem destaque neste texto:

Lisboa vai ser o cenário para a gravação de algumas acções da telenovela brasileira Viver a Vida, numa iniciativa promovida pelo Turismo de Lisboa, Turismo de Portugal e IAPMEI[3]. O objectivo é promover a capital portuguesa junto do público brasileiro.
As gravações feitas em Lisboa serão exibidas no decorrer desta telenovela de horário nobre da TV Globo, e transmitida pela SIC[4], vista diariamente por milhões de telespectadores no Brasil e Portugal.
A iniciativa, que visa aumentar o interesse pelo destino turístico Lisboa, envolve a participação das personagens Bruno e Felipe, representadas pelos actores brasileiros Thiago Lacerda e Rodrigo Hilbert. Como fotógrafos, os dois galãs estarão empenhados na cobertura de um evento de moda em Lisboa (19/mar/2010).[5]

Viver a Vida, aliás, foi uma novela que divulgou diversos destinos internacionais, como as cidades Petra, Jerash e Amã (todas na Jordânia), Paris, Jerusalém e Lisboa.

Laços de Família também usou e abusou dos destinos internacionais e mostrou o Japão, a cidade de Oxford, na Inglaterra, além de Veneza, na Itália.

Tá bom! Eu sei que você está pensando em O Clone e Caminho das Índias! Marrocos, Egito, Índia, Dubai...

Não cabe a este texto confirmar a hipótese de que os noveleiros de plantão sintam-se motivados a conhecer os destinos turísticos mostrados nas novelas, mas se não houvesse incremento de fluxo receptivo nestes locais não haveria interesse dos órgãos de turismo em atrair a atenção dos autores e das redes de TV.

O que realmente importa é que a abrangência das telenovelas brasileiras é tão grande que estas acabam se tornando um importante veículo de propaganda de todos os tipos, para todos os países do mundo. Somente a novela Escrava Isaura foi exibida em cerca de 130 países desde a sua gravação e exibição no Brasil, em 1976.

Como muitas telenovelas são adaptações de grandes obras literárias brasileiras, acredito que seja inevitável a divulgação de uma localidade sem que haja necessariamente uma ação de marketing por parte dos órgãos municipais ou estaduais de turismo. Mas a produção da novela pode sempre optar por fazer as gravações em estúdio ou nas cidades cenográficas caso não haja um incentivo mais “efetivo”, afinal transportar equipamentos, montar estruturas, obter autorizações sem fim, passagens aéreas, traslados, segurança, hospedagem, alimentação, seguros diversos e demais providências não deve ser tarefa das mais simples, nem tão pouco baratas.

Não posso deixar de citar Jorge Amado – Tieta do Agreste, Dona Flor e seus Dois Maridos, Gabriela Cravo e Canela; João Ubaldo Ribeiro – O Sorriso do Lagarto; José Lins do Rego - Riacho Doce, cujas obras foram recriadas pela Rede Globo e levadas ao público, tornando famosas algumas localidades antes desconhecidas do público em geral.

Se você pensava que as telenovelas só geravam motivação para as fofocas e os assuntos rotineiros, estava enganado. Assista a uma novela, viaje na pele dos seus personagens e, se tiver uma oportunidade, vá conhecer in loco os seus lugares prediletos.

Boa Viagem!


[1] FAAP: Fundação Armando Álvares Penteado
[2] Fonte: http://www.nordesturismo.com.br/noticias/regiao-do-sao-francisco-sera-cenario-da-proxima-novela-da-globo-%E2%80%9Ccordel-encantado%E2%80%9D/
[3] IAPMEI – Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação, Portugal.
[4] SIC – Sociedade Independente de Comunicação, canal de TV aberto de Portugal.
[5] Fonte: http://www.briefing.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=6984:turismo-de-lisboa-promove-cidade-em-novela-da-rede-globo&catid=35:marketing&Itemid=54

SISTEMA BRASILEIRO DE CLASSIFICAÇÃO DE MEIOS DE HOSPEDAGEM

Mais uma nova Matriz de Classificação de Meios de Hospedagem entra em vigor no Brasil. Segundo o site do Ministério do Turismo[1], o Sistema de Classificação de Meios de Hospedagem é voluntário, mas os estabelecimentos interessados em obter a certificação deverão fazer o cadastramento no Cadastur[2] – sistema de cadastramento de pessoas físicas e jurídicas que atuam no setor do turismo. A classificação será feita por profissionais competentes da área.

A classificação dos meios de hospedagem é utilizada mundialmente como forma de informar o turista sobre diversos aspectos do estabelecimento escolhido, como por exemplo a infra estrutura de lazer e serviços disponíveis. Quem escolhe se hospedar num hotel de 3 estrelas já sabe que não vai encontrar um parque aquático ou grandes espaços para eventos; o contrário ocorre se o estabelecimento em questão for um resort de 5 estrelas.

A avaliação do meio de hospedagem será efetuada considerando três requisitos básicos, chamados de mandatórios:
            - Infra estrutura;
            - Serviços;
            - Sustentabilidade.

A novidade agora, em comparação com DN 429 – antiga matriz de classificação geral de meios de hospedagem, é a Sustentabilidade, que considerará os aspectos relacionados ao Meio Ambiente, Sociedade e Satisfação dos Hóspedes. Segundo o próprio Ministério do Turismo, as ações de sustentabilidade estão relacionadas ao “uso dos recursos de maneira ambientalmente responsável, socialmente justa e economicamente viável, de forma que o atendimento das necessidades atuais não comprometa a possibilidade de uso pelas futuras gerações”.

Eu, particularmente, não acredito muito que este item será analisado com rigor, já que a grande maioria dos meios de hospedagem coloca algumas “ações” ambientais e sociais apenas como forma de obter vantagens econômicas sem o efetivo compromisso com o meio ambiente ou a sociedade. Um bom exemplo é a velha historinha “pra boi dormir” que implora aos hóspedes que reutilizem suas toalhas de banho, com a desculpa que todo ano milhões de litros de produtos de limpeza são utilizados na lavagem do enxoval dos hotéis. Oras, se existe realmente a preocupação com o meio ambiente, por que é que os hotéis não fazem o crédito referente ao custo de lavanderia na conta corrente do hóspede? Mas, ao contrário, esta reutilização das tolhas de banho significa que o hotel vai economizar na conta de lavanderia e, conseqüentemente, seu lucro vai aumentar.  Da mesma maneira, os hotéis poderiam incentivar a produção de hortifruti na região onde estão instalados, utilizando estes produtos no cardápio do restaurante. Utilizar produtos de fontes renováveis, adotar a energia solar com o uso de placas de células fotovoltaicas, aquecimento solar, comprar produtos que não sejam embalados em plástico ou isopor, oferecer amenities igualmente livres do maldito plástico, fazer a separação do lixo: isto são ações voltadas ao meio ambiente. E o que dizer da contratação de funcionários? Oferecer treinamento constante, registrar os funcionários e pagar todos os tributos, oferecer convênio médico e odontológico, dar suporte psicológico ao funcionário e à família, permitir o desenvolvimento pessoal e profissional, ter um plano de carreira claro e objetivo, inibir e fiscalizar casos de assédio moral, ter o mínimo de ações trabalhistas, proporcionar o acesso à educação, e mais infinitas ações que estão ligadas à Responsabilidade Social. O entorno do estabelecimento também deve ser levado em consideração; ações junto ao poder público podem trazer benefícios à população, como saneamento básico, sinal de telefonia celular, atendimento médico, pavimentação de ruas e estradas, melhorias na área de habitação, qualificação profissional e ensino público de qualidade.

Mas um ponto positivo deve ser destacado: finalmente houve um parecer com relação à tipologia de meios de hospedagem, antes não formalizada pelo poder público e órgãos competentes. Surge no novo sistema de classificação a distinção entre alguns tipos mais comuns: Hotel, Resort, Hotel Fazenda, Cama & Café (o internacionalmente conhecido Bed & Breakfast), Hotel Histórico, Pousada e, finalmente, os Flats e Apart-Hotéis. Outras tipologias foram deixadas de fora, acredito, por não terem características que possam variar do simples ao luxuoso, como Acampamento, Camping, Albergue e Hospedaria.

A Classificação concedida tem validade de três anos e, neste meio tempo, o estabelecimento será visitado – cerca de 18 meses após a classificação inicial, para haver a ratificação da classificação. Obviamente os custos com a classificação são de responsabilidade do estabelecimento que a solicitou e acredito que incluam todas as despesas de transporte, hospedagem e alimentação dos avaliadores, além dos honorários cobrados pelo INMETRO e impostos, claro... estes não poderiam faltar!


[1] http://www.turismo.gov.br/turismo/programas_acoes/qualificacao_equipamentos/classificacao_hoteleira_2.html
[2] http://www.cadastur.turismo.gov.br/cadastur/index.action

MAREMOTOS PODEM ATINGIR O BRASIL?

Todos dizem que Deus é brasileiro, por vários motivos. Até o cinema nacional já tratou do assunto - com maestria, diga-se de passagem. Mas uma das maiores provas da suposta nacionalidade Dele é a ausência de grandes catástrofes naturais em solo nacional. A terra já andou tremendo no litoral de Santos ou em algumas cidades do nordeste, mas nada que causasse grandes perdas. No entanto uma hipótese divulgada nos últimos anos tem deixado muita gente com a “pulga atrás da orelha”: a possibilidade de um tsunami nas costas norte e nordeste do Brasil ocasionada pela erupção de um vulcão nas Ilhas Canárias, no litoral norte do continente africano.

“Segundo Bill McGuire, diretor do Centro de Pesquisa de Riscos Benfield Grieg, da University College of London, um grande bloco de terra, aproximadamente do tamanho da ilha britânica de Man (572 km²), está prestes a se desgarrar da ilha de La Palma, nas Canárias, após uma erupção do vulcão Cumbre Vieja.”
Fonte: http://180graus.com/geral/vulcao-nas-ilhas-canarias-ameaca-explodir-e-gerar-onda-de-ate-100m-351881.html de 12/08/2010

A última erupção do Cumbre Vieja foi em 1949, quando o flanco oeste desmoronou, apenas cerca de 4 metros desta parte afundou no mar. Esta erupção deixou o terreno instável. Conforme o site Ambiente Brasil:

“No caso das Ilhas Canárias foi observado um aumento da atividade sísmica/vulcânica no interior da ilha. Como a mesma estava inerte a várias dezenas de anos, o topo do cone vulcânico, que é a própria ilha, se consolidou de tal forma que se extinguiu o respiro ou válvula de alívio da pressão interna do vulcão. Assim, quanto mais sinais ela der de atividade vulcânica no seu interior maior será o risco de haver uma erupção vulcânica de grandes proporções. O tamanho da onda tsunami gerada será proporcional à quantidade de energia transmitida ao mar no momento da erupção.”
Fonte: http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/artigos_agua_salgada/os_tsunamis.html
 
Testes feitos em laboratório mostraram que a onda se propagará pelo Oceano Atlântico varrendo os litorais de Portugal, Espanha, Inglaterra, Canadá, Estados Unidos, Ilhas do Caribe, países da América Central e do Sul,  da costa norte do Brasil até o estado da Paraíba, além da própria África. Não existem dados concretos com relação aos tamanhos das ondas, pois estas vão variar de acordo com a intensidade da erupção e da possibilidade de haver o desmoronamento de uma das paredes do cone do vulcão. Estudiosos garantem que as ondas podem ser de cerca de 35 metros na costa da África até cerca de 6 a 10 metros na costa norte do Brasil.
Mas este tema não foi abordado aqui para alarmar ou divulgar notícias fantasiosas, mas para colocar algumas questões: O que as autoridades brasileiras estão fazendo a respeito? Existe um plano de contingência? Em quanto tempo haverá a desocupação da costa? Como avisar as comunidades pobres, vilas de pescadores e comunidades ribeirinhas, principalmente ao longo do Rio Amazonas, que deverá ter uma pororoca sem precedentes?
Vale ressaltar que as grandes capitais, como Fortaleza e Recife, têm a maior faixa urbana ao longo do litoral, com altitude média de apenas 3m acima do nível do mar.
Uma amiga minha, que trabalhou num hotel do Algarve, em Portugal, me contou certa vez que houve um alerta de tsunami na região. Segundo ela, a área foi evacuada em cerca de DUAS HORAS. Felizmente não houve o tsunami, mas fico aqui pensando em quanto tempo uma cidade brasileira poderia colocar todos os moradores e visitantes em segurança caso houvesse um alerta deste tipo.
Os brasileiros têm o péssimo hábito de achar que nada de pior vai acontecer. Este otimismo é na realidade um comodismo ignorante. Vejam as catástrofes naturais pelas quais passamos nos últimos dois anos. Quantas mortes poderiam ser evitadas na região serrana do Rio de Janeiro? Quantas pessoas poderiam ter escapado dos desmoronamentos na região de Angra dos Reis, no município de Mauá, na capital paulista e em vários outros locais Brasil afora? Quantas perdas financeiras, pessoais, sonhos, sofrimentos...
Todas estas questões me fazem lembrar de uma piadinha sem graça que ouvi há muito tempo. A velha piada contava que Deus, no momento da criação, foi questionado (não me perguntem por quem):
- O que o Senhor vai colocar nesta faixa de terras, a que chamarão de Europa?
- Ah! Aqui eu vou colocar terremotos, nevascas, vulcões, e um povo briguento que sempre estará de mau humor.
- Certo, Senhor. Mas e nesta outra área, que chamarão de África?
- Aqui eu vou colocar também muitos vulcões, muita fome, muita seca, desertos, animais ferozes e peçonhentos.
- Tá bom, Senhor. E nesta grande faixa de terra que será chamada de Ásia?
- Boa pergunta. Aqui vou colocar várias religiões, muitas crenças, que não se aceitarão e não se respeitarão. Mas também vou colocar terremotos, maremotos, vulcões, desertos de sal, riqueza contrastando com pobreza, muito dinheiro e muita fome.
- Senhor, se me permite uma outra pergunta. Por que neste pedação de terra que se chamará Brasil eu não vejo desgraças como nos outros lugares do mundo?
- Bem, neste local eu vou colocar praias lindas, natureza exuberante, muitos rios de águas límpidas, animais exóticos, clima ameno, a maior floresta tropical do mundo e não haverá terremotos, maremotos, nevascas ou vulcões.
- Mas Senhor, por que tantas coisas boas no Brasil e só desgraça no resto do mundo?
E Deus, do fundo da sua sabedoria infinita respondeu:
- Você ainda não viu o povinho que eu vou colocar lá!
Não concordo com o fim da piada, mas penso que deveriam mudá-la para: você não viu o tipo de políticos que eu vou colocar lá.
Por que todo mundo reclama dos nossos políticos e não faz nada? Por que nossos políticos só pensam em enriquecimento ilícito e em levar vantagem em tudo? Por que só o salário deles pode ter aumento real? São tantas as perguntas que você, leitor, gostaria de incluir neste rol.
Mas vamos pensar então em Turismo, e não em política. Um notícia desta pode influenciar a escolha do turista? Os milhares de brasileiros e europeus acharão mais seguro outros destinos ao invés de Fortaleza, Natal, João Pessoa e Recife? E se tivermos um plano de contingência seguro e eficaz, capaz de garantir a segurança destas cidades na possibilidade da erupção do Cumbre Vieja?
Lembro-me que quando trabalhava no Le Meriden Bahia tivemos um ensaio de evacuação do prédio para casos de incêndio. Tínhamos que pensar em todos os hóspedes, nos que estavam dormindo ou utilizando as diversas áreas do hotel, utilizando uma lista com todos os nomes e, no final, com a certeza de que 100% estavam seguros, inclusive os funcionários. Conseguimos esvaziar o hotel em cerca de 30 minutos. Considerando que são raros os hotéis que têm este tipo de treinamento, associado à ineficácia do poder público e à catástrofe anunciada, não vejo bons resultados.
Existem tantas secretarias municipais, estaduais, federais, além das associações ligadas ao turismo e NENHUMA se manifestou ainda. Até quando o planejamento vai ser deixado em segundo plano? Até quando este comodismo ignorante disfarçado de otimismo vai dominar? Quando é que o poder público vai começar a pensar nas infinitas possibilidades que podem colocar em risco a vida da população? Não é somente a possibilidade de erupção do Cumbre Vieja, mas a ocupação irregular de encostas e áreas de risco, beiras de rios e córregos, destruição das matas ciliares, assoreamento de rios e lagos, falta de fiscalização e licenciamento de obras – inclusive as públicas, lixões clandestinos, esgotos irregulares, epidemias de dengue, esquistossomose, bicho barbeiro, AIDS, hepatites... Quanta desgraça por falta cuidados, educação e principalmente INICIATIVA de quem pode realmente fazer alguma coisa.
A erupção do Cumbre Vieja é uma hipótese assim como os desmoronamentos de encostas da região serrana do Rio de Janeiro eram antes de acontecerem, com uma única diferença: a primeira foi elaborada por um grupo de cientistas e a segunda? Não sei... ninguém noticiou, ninguém publicou, ninguém divulgou...

sábado, 22 de janeiro de 2011

PROSTITUIÇÃO E TURISMO

Pela lei brasileira, a prostituição não é crime. Toda pessoa é dona de seu corpo e pode usá-lo como quiser. Mas tirar proveito da prostituição, seja de que forma for, é crime.
Assim, manter casas de prostituição, viver às custas de prostitutas ou mesmo induzir alguém a esse tipo de trabalho, por exemplo, são considerados crimes. As penas podem ir de um a oito anos de reclusão.
Fonte: "Prostituição não é crime, mas lei pune exploração". Folha On-Line - Cotidiano, disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u108908.shtml
O tema é quase um tabu entre os estudiosos de turismo no Brasil. Raros são os profissionais que reconhecem o Turismo Sexual como um segmento do turismo. Mas não há como negar: existe sim um estreito relacionamento entre Turismo e Prostituição em qualquer lugar do mundo. E não pensem que trata-se somente de prostituição feminina, já que a frequência de garotos de programa em hotéis tem aumentado ano a ano.

O Turismo tem um efeito psicológico nas pessoas que, por estarem longe do seu entorno e se sentirem completos estranhos na multidão, liberam-se assumindo comportamentos não usuais em seus locais de residência fixa.

Turismo Sexual seria um segmento do turismo se a motivação da viagem fosse exclusivamente a busca de parceiros(as) sexuais no local de destino. Impossível contabilizar a monta do fluxo turístico por motivação sexual. Sabe-se que existe fluxo turístico de executivos japoneses para os países subdesenvolvidos da Ásia Oriental com o único objetivo de satisfazer necessidades sexuais; este tema já foi abordado por diversos documentários internacionais.

Se o Turismo Sexual não fosse um segmento, não existiriam cadeias hoteleiras que permitem encontros fortuitos entre hóspedes e funcionários, não havendo qualquer forma de punição ou regras para inibir este comportamento. Se Turismo Sexual não fosse um segmento, não existiriam cadeias hoteleiras voltadas a públicos específicos, como singles (solteiros) ou GLS (atualmente uma sigla maior - a cada dia mudam ou aumentam a abrangência: LGBTTT - Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros, os ditos "simpatizantes"). Se Turismo sexual não fosse um segmento, não estariam espocando os cruzeiros para segmentos idênticos aos descritos acima.

Agora me respondam: quem vai a um hotel ou cruzeiro exclusivo para solteiros, procura o que? Namoro? Casamento? Compromisso?

Voltando à prostituição, há que se considerar que trata-se de um problema grave, enfrentado pelas administrações públicas dos mais variados municípios. O contágio por DSTs - Doenças Sexualmente Transmissíveis é, antes de tudo, um problema de saúde pública, sobretudo causado pela promiscuidade. Conforme o Ministério da Saúde, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais:

As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são consideradas como um dos problemas de saúde pública mais comuns em todo o mundo. Em ambos os sexos, tornam o organismo mais vulnerável a outras doenças, inclusive a aids, além de terem relação com a mortalidade materna e infantil. No Brasil, as estimativas de infecções de transmissão sexual na população sexualmente ativa são:
  • Sífilis: 937.000
  • Gonorreia: 1.541.800
  • Clamídia: 1.967.200
  • Herpes genital: 640.900
  • HPV: 685.400
Desde 1986, a notificação de casos de aids e sífilis é obrigatória a médicos e responsáveis por organizações e estabelecimentos públicos e particulares de saúde, seguindo recomendações do Ministério da Saúde. Com as mesmas orientações, o registro de HIV em gestantes e recém-nascidos tornou-se obrigatório desde 2000. Disponível em http://www.aids.gov.br/pagina/dst-no-brasil

PS. Não existem dados relativos aos portadores de HIV no Brasil, apenas estimativas.

Criar campanhas contra a prostituição é comprar briga com diversos segmentos da sociedade. Campanhas contra a prostituição infantil já são mais comuns, não só no Brasil como em vários países da África. Estados do nordeste vivem este problema há tempos. Culturamente, muitos brasileiros iniciam sua vida sexual em prostíbulos na pré adolescência, levados por seus pais ou parentes próximos. Culturalmente também, existe o péssimo hábito de se pegar meninas "para criar" e estas, ao contrário do que se pensa, não serão tratadas como filhas adotivas, mas apenas como empregadas domésticas e, muitas vezes, com outras atribuições contrárias ao que permite a legislação vigente (não estou me referindo ao trabalho infantil). Portanto como deter a prostituição infantil se este hábito está intrínseco na cultura de diversas populações Brasil afora?

Nos hotéis existe a obrigatoriedade de se exigir a apresentação de documento original de identidade para visitantes que queiram ter acesso aos apartamentos por solicitação de hóspedes. Alguns estabelecimentos pedem a assinatura do hóspede num tipo de autorização para o acesso do(a) visitante ao seu apartamento. Desta forma pretende-se inibir o acesso de menores e passar a responsabilidade por qualquer incoveniente ao hóspede.

Os recepcionistas e seguranças de hotéis acabam por adquirir um "sexto sentido" para detecção de prostitutas ou garotas de programa. Desta forma existe um certo "controle" da presença destas nos hotéis, já que é comum que a busca por clientes aconteça abertamente nos saguões de entrada; pedir que se retirem não é muito conveniente pois corre-se o risco de ter um processo por discriminação ou, o mais comum, um belo e caloroso escândalo. É comum esposas enciumadas reclamarem na recepção por terem seus maridos assediados (ou o contrário).

Grandes eventos nacionais, como o Carnaval no Rio de Janeiro, atraem mulheres de várias localidades com o objetivo de ganharem "uns trocos". Certa vez passei o carnaval no Rio de Janeiro e me surpreendi, conversando com garotas numa chopperia em Copacabana, ao saber que eram oriundas de cidades do sul de Minas Gerais e que tinham vindo ao Rio de Janeiro somente para se prosituírem. As famílias, coitadas, acham que as mocinhas foram se divertir.

Infelizmente existe no Brasil uma admiração extrema pelo estrangeiro. Como dizia Eduardo Dusek na primorosa e realista letra da música "Doméstica":
Então alguém lhe aconselhou logo de cara
"Dá um passeio e vê se arranja um barão"
Porque melhor que o interior ou que uma cela
É ter turista e faturar no calçadão...
O turista estrangeiro é tido como uma pessoa de posses, um milionário que vive muito bem e que representa a possibilidade de casamento e mudança de vida. Se houvesse uma pesquisa capaz de quantificar as brasileiras casadas com estrangeiros, relacionando sua fonte de renda e classe social antes e depois do casamento, assim como seu status entre os amigos e parentes no Brasil, aí então haveria uma base de dados assustadora. Talvez houvesse então uma aceitação sobre a relação entre Turismo e Prostituição e o tão vergonhoso Turismo Sexual.

Certa vez, trabalhando num hotel do nordeste, recebemos a solicitação de reserva de um grupo de italianos: 200 apartamentos duplos - mas deveríamos providenciar 200 garotas de programa para completar a ocupação das UHs (unidades habitacionais), já que viriam apenas homens,  200 no total. Não aceitamos o grupo, não por questões morais, mas por não termos 200 UHs disponíveis e porque o agente exigiu que nós contratássemos as garotas, pois ele não queria se envolver neste tipo de negócio. Ora, todo hoteleiro sabe que a intermediação de prostituição é crime, e parece que o agente de viagens italiano também conhecia estes detalhes da legislação brasileira. Nem imagino se ele conseguiu outro hotel para sua demanda.

A mulher brasileira é tida, no mundo inteiro, como a mais sensual do mundo e, infelizmente, na visão de muitos estrangeios, a mais fácil. A culpa é das mulheres? Acredito que não. Defendo a idéia que a culpa é da nossa administração pública, que não proporciona condições básicas de sobrevivência.  Casar-se com um europeu ou americano ainda é o sonho de muitas: mudar de vida, viajar de avião, viver no estrangeiro... visite o desembarque internacional do aeroporto de Recife e veja mulheres sozinhas à cata de estrangeiros; depois vá ao embarque internacional e veja mulheres se despedindo de seus homens, chorando copiosamente... embarcou? sumiu de vista? voltemos ao desembarque para tentar a sorte de novo!

Sei que posso receber críticas ferrenhas por este texto, mas tudo o que escrevi está embasado em minhas observações e experiências profissionais. Feche os olhos para o problema e diga que sou um idiota. Ou então veja com seus próprios olhos, comece a observar o comportamento dos hóspedes no hotel na sua próxima viagem, ou dos turistas na praia, no barzinho ou na barraca de praia... observe os estrangeiros, seus olhares, seu comportamento... observe a mulher que o acompanha... depois entre aqui e deixe seus comentários. Turismo sexual: existe isto no Brasil?

TRINDADE - GO

Cidade que, a exemplo de muitas, tem sua origem de descobertas de imagens religiosas ao acaso. São inúmeros os exemplos e há quem diga que os jesuítas distribuíam imagens sacras nos mais diversos lugares a fim de, sendo encontradas, plantar a religiosidade e a devoção na humilde população brasileira. São Tomé das Letras (MG), São Miguel dos Milagres (AL), Aparecida (SP) e vários outros exemplos podem ser encontrados tanto no Brasil como nas ex-colônias hispânicas e portuguesas.

Conforme o site oficial do município
"Por volta de 1840, um casal de agricultores descobriu, quando roçavam um pasto nos fundos de casa, ao lado do córrego Barro Preto, um medalhão de barro de pouco mais de meio palmo. O medalhão representava a Santíssima Trindade coroando a Virgem Maria e cativou a gente humilde do lugar. Aos sábados, reuniam-se para rezar o terço e, em bem pouco tempo, a casa de Constantino Xavier e Ana Rosa já não conseguia acolher tanta gente para a oração diante do Pai Eterno".

Igreja Matriz, ou Igreja Velha - Trindade, GO

Tempos depois, várias capelas foram erguidas e,  por volta de 1912, a igreja acima tornou-se a Igreja do Divino Pai Eterno, passando a ser o centro das atenções e romarias vindas de vários municípios do estado de Goiás e do Brasil.

A Festa do Divino Pai Eterno acontece anualmente, há 170 anos em Trindade, atraindo milhares de pessoas. Sobre a festa, o site do município (acima citado) ainda informa:

Em 1891, o bispo de Goiás, Dom Eduardo Silva, visitou Trindade nos dias da festa e voltou estarrecido, registrando o que ali se via, a partir de seus olhos de pastor: "Jogos, besundellas, brequetefes e reunem-se bilhardonas e as calonas de tôdas as frequezias bem como sugeitos avillandos e rapazes mariolas, que aproveitam essa reunião de gente ruim e de marafonas para saciarem a sua luxuria e executarem suas vinganças, de sorte que não há um anno em que não haja assassinatos e ferimentos graves".
O assustado bispo cuidou logo de ir à Europa em busca de padres para "se cristianizarem as romarias". Voltou com os redentoristas alemães, em 1894, que se fixaram em Aparecida do Norte-SP, Campininhas das Flores (hoje bairro de Goiânia) e na própria Barro Preto, onde estão até hoje.
A Festa do Divino Pai Eterno, ou como citado no calendário de eventos do município Romaria de Trindade e Romaria dos Carros de Boi, acontece anualmente na última semana de junho e primeira semana de julho. Além da programação religiosa, com procissões, missas e celebrações diversas, o principal atrativo da festa acaba sendo a "feirinha" que de "inha" não tem nada, pois ocupa todas as ruas do centro da cidade, com os mais diversos produtos, sendo o principal confecções. Na "feirinha" podem ser encontrados desde os globalizados produtos piratas até utilidades domésticas, calçados, artesanatos, importados Made in China e comida, muita comida. Se for a Trindade não deixe de experimentar as pamonhas, de todos os tipos, enormes, saborosíssimas, muitas ainda feitas com gordura de porco, o que as deixa com um gostinho histórico e tradicional, como feitas há seculos em vários lugares do Brasil. Não posso deixar de falar do inesquecível Pastel Goiano, dos Biscoitos de Polvilho e muitas outras guloseimas regionais.

Caso queira se hospedar em Trindade, não se preocupe: "Desde 2007, mais de 11 pousadas foram construídas no Centro da cidade. Sete só na rua que liga o Santuário Basílica à Igreja Matriz, o local é preferido pelos romeiros por concentrar a parte espiritual da festa." Fonte: http://www.bomjesusdalapa.org.br/site/noticias/81-romaria-do-divino-pai-eterno-faz-170-anos.html
A Basília do Divino Pai Eterno é a única do mundo em homenagem à Santíssima Trindade. A imagem que representa o Divino Pai Eterno é composta por quatro figuras religiosas: uma figura mais velha à direita, representando Deus Pai, uma mais jovem à esquerda, representando o Filho, o Espírito Santo, representado por uma pomba branca, voando entre os dois e, abaixo, em posição central, a Virgem Maria, sendo coroada por ambos. Esta foi a imagem originalmente encontrada pelos lavradores nos idos de 1840, e que permanece inalterada, salvo algumas representações onde Pai e Filho também aparecem coroados.


Basílica do Divino Pai Eterno - Trindade, GO

A Romaria dos Carros de Boi é um evento inesquecível. São centenas de carros de boi, vindos de fazendas e cidades próximas ou distantes de Trindade. O típico som emitido pelas rodas enche a cidade como um coral de vozes contínuas e persistentes. As famílias chegam à cidade em seus carros de boi, acompanhadas por cavalos, carros, tratores ou caminhões no início da festa, preparados para acampar em um dos vários terrenos alugados para este fim; montam barracas feitas de lona com estruturas de bambu e lá se encontram todos os itens necessários ao conforto. A variedade de animais impressiona e a preocupação em criar uma harmonia de cores e raças é perceptível. No fim da festa todos montam seus carros e vão embora. Quanto tempo de viagem? Não importa! O Divino Pai Eterno há de providenciar uma viagem segura de retorno ao lar.



Trindade está a apenas 18 km de Goiânia e por isto, durante todo o ano, várias pessoas fazem o trajeto a pé, como forma de penitência ou pagamento de promessas. Ao lado da rodovia que liga ambas as cidades, no sentido Trindade / Goiânia,  foram construídas as estações da Via Sacra. Estes pontos apresentam infra estrutura para os romeiros, com barracas de alimentos e bebidas e, eventualmente, venda de lembrancinhas.


Out Door da festa no início da Estrada dos Romeiros, em Goiânia, GO


A cada ano a festa se renova, acompanhando as tendências do lazer. Shows de duplas sertanejas, tendas de música eletrônica, novos espaços para oferecer uma gama de atividades noturnas ou diurnas. Assim é Trindade: religiosidade e diversão abençoadas pelo Divino Pai Eterno.

Grande beijo aos meus amigos de Trindade: Virlene, Dona Coraci, Jeová, Vilma, Tita, Ísis, Bruninho e Jorge. Nos vemos por aí, comendo uma pamonha ou mijando na galinha... rsrsrs.