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quarta-feira, 11 de maio de 2011

HERANÇAS DA MONARQUIA

Em época de casamento real na Inglaterra, o mundo se vira para a impossível realidade dos contos de fadas (impossível para a esmagadora maioria, claro). Todos imaginam o luxo e a ostentação dos palácios reais, a mobília, as tapeçarias, as porcelanas, pratarias e cristais. No entanto poucos imaginam que, no Brasil, tivemos uma das famílias reais mais respeitadas do mundo ocidental, isto no séc. XIX. Dom Pedro I, nosso primeiro imperador, foi admirado em sua época como um dos mais valentes e preparados monarcas do mundo, tendo inclusive sido convidado a ocupar o trono da Grécia, da Espanha e daquela que seria chamada de Ibéria (resultado da união entre Espanha e Portugal): recusou todas as propostas.

A vinda de Dom João VI e de toda a corte portuguesa para o Brasil, em 1808, resultou num grande avanço social e urbano, principalmente nas grandes cidades da época, como Salvador e Rio de Janeiro. A arquitetura da então colônia, agora sede da coroa portuguesa, adaptou-se para dar ares de realeza à altura dos nobres que acompanharam D. João VI e sua esposa, a espanhola Carlota Joaquina. Destas mudanças resultou um patrimônio histórico e arquitetônico riquíssimo, que pode ser visitado em várias partes do Brasil. No entanto as construções utilizadas como residência oficial da Família Imperial restringem-se apenas à Capital do Império, a cidade do Rio de Janeiro, e à cidade escolhida para ser o local de veraneio da realeza, Petrópolis. 

Para começar, nada mais justo que o palácio que se tornou sede oficial na coroa portuguesa no Brasil: a Quinta da Boa Vista.

No início do século 19, a área chamada Quinta da Boa Vista, um tanto distante do então centro da cidade, pertencia a um rico comerciante Português, chamado Elias Antônio Lopes, que adquiriu um dos lotes, e lá ergueu um casarão em 1803, onde era chamado de "Chácara do Elias". Este casarão dava uma bela vista para a Baía da Guanabara, e daí vem o nome Quinta da Boa Vista. Apesar de não muito usual no Brasil, o termo Quinta em Portugal significa propriedade rural.
Com a mudança de Dom João VI ao Brasil, em 1808, este instalou-se no Paço Real que depois seria chamado Paço Imperial na Praça XV do Rio de Janeiro, que era até então a morada do Vice-Rei. Talvez por motivos de recebimento de favores políticos ou por falta de opção, o comerciante então resolveu doar seu casarão à D. João VI que aceitou a propriedade. Devido à falta de moradias na cidade, diz-se que muitas casas eram confiscadas para uso da corte.

Paço de São Cristóvão, Quinta da Boa Vista - Rio de Janeiro, Brasil.

A Quinta da Boa Vista é um enorme complexo de lazer do Rio de Janeiro, que inclui grandes jardins, da época do império, o Jardim Zoológico, lagos e o Museu Nacional de História Natural, que funciona no palácio. Infelizmente, por descaso do poder público, o lago da Quinta da Boa Vista está entre os mais poluídos do Brasil, conforme pesquisa feita pela Fundação SOS Mata Atlântica e divulgada em 07/01/2011 pelo Jornal Nacional, da Rede Globo.

Outro importante exemplo é o Paço Imperial, na Praça XV, citado anteriormente, e moradia oficial da família real portuguesa antes da mudança para a Quinta da Boa Vista.

O prédio que viria a ser o Paço Imperial foi ocupado pela primeira vez, em 1743, pelo Governador Gomes Freire de Andrade, o Conde de Bobadela, que havia ordenado ao engenheiro militar José Fernandes Alpoim a construção de uma nova Casa dos Governadores para sediar o governo das capitanias do Rio de Janeiro e de São Paulo. Alpoim aproveitou os edifícios preexistentes no local, a Casa da Moeda e o Armazém Del Rey, acrescentando dois pisos novos que resultaram em uma sóbria construção em alvenaria caiada de branco, com molduras nas janelas em pedra de cantaria e vários pátios por onde se fazia a circulação. Na entrada principal, uma bela portada de mármore de lioz dava acesso ao piso superior. De aspecto imponente em relação às edificações vizinhas, em pouco tempo, o prédio converteu-se em centro da política local e regional, bem como do comércio. Até 1808, a Casa da Moeda e o Real Armazém continuaram a funcionar no andar térreo.
Fonte: http://www.pacoimperial.com.br/historico.aspx


Foto de Paulo Salles: Paço Imperial

O Paço Imperial não tem ares de palácio da realeza, mas deve-se imaginá-lo com grandes jardins no seu entorno, que foram sendo reduzidos com o passar dos anos até serem totalmente eliminados.

Paço Imperial - Pçaça XV de Novembro, Rio de Janeiro

Com a abertura dos portos brasileiros, uma enxurrada de produtos europeus começou a inundar o comércio carente das cidades do império. O centro da então capital passou a se desenvolver e a crescer com a abertura de diversos estabelecimentos comerciais, que ofereciam os tão cobiçados produtos europeus, tão distantes da realidade brasileira.
[...] os franceses passaram a trazer produtos mais finos que eram absorvidos pela alta Corte; os portugueses trabalhavam duro, de sol a sol, querendo ficar rico rapidamente, mas o trabalho pesado era executado pelos negros escravos. A Rua do Ouvidor – Rua das Flores – Travessa do Ouvidor _ Rua Nova do Ouvidor - foram sendo ocupadas pelos franceses com restaurantes, confeitarias, cafés, casas de artigos de vestiário, modistas, decoradores, barbeiros, cabeleireiros, e lojas de artigos finos. A grande força do comércio dos franceses fez com que a Praça XV ficasse praticamente nas suas mãos. Pharoux, um rico comerciante francês, que já tinha no local um grande hotel, recebeu a concessão para modernizar e explorar o Cais. Como os navios tinham que fundear ao largo, pois o Cais não tinha condições de receber qualquer tipo de navio, os passageiros tinham que vir em pequenas embarcações do navio até o cais e podiam gozar de maior conforto se hospedando no Hotel Pharoux. Fonte: Jorge Mitidieri, disponível em http://www.riototal.com.br/riolindo/tur032.htm
O Hotel Pharoux foi inaugurado em 1838 e, por muitos anos, foi um dos mais luxuosos hotéis do Rio de Janeiro:


Outro palácio extremamente importante é o Palácio de Petrópolis, atual Museu Imperial.

Localizado no antigo Palácio Imperial, a residência preferida de D. Pedro II, mandado construir em 1845 pelo Imperador e dado por concluído em 1864. A construção em estilo neoclássico é considerada relativamente simples, para residência de soberanos, mas perfeitamente adaptada à função de casa de campo, sem deixar de ser elegante. Possui um corpo central de dois pavimentos e um terraço sobre o pórtico e duas alas dotadas cada qual de 12 janelas. Na fachada central, figuram as armas do Império. (...) Foi construído com recursos particulares do Imperador, nas terras da Fazenda do Córrego Seco, herdadas de seu pai, D. Pedro I que sonhou ali construir seu Palácio de Verão, o Palácio da Concórdia. Foi construído solidamente com largas paredes de pedra com madeira de lei procedentes de várias regiões do país. Seus jardins planejados pelo botânico Jean Baptiste Binot com orientação pessoal de D. Pedro II conservam até hoje suas características, com variedade de espécies botânicas originais, estátuas gregas, fontes e repuxos.
Fonte: http://www.petropolis.rj.gov.br/


Museu Imperial de Petrópolis

Petrópolis, aliás, possui o maior e mais rico acervo histórico do período Imperial. Por ter sido escolhida pela Família Imperial como local de veraneio, vários outros políticos e pessoas influentes da corte também lá construíram seus palacetes. Um bom exemplo é o Barão de Guaraciaba, negro, fazendeiro de café como muitos outros do Vale do Paraíba:

(...) Francisco Paulo de Almeida. Único titular do império que tinha sua tez negra, título agraciado em 16 de setembro de 1887, poucos meses antes da libertação dos escravos, foi também um dos mais interessantes e curiosos homens de nossa história. Homem de grande cultura, escolheu para casar-se com uma jovem branca, de família tradicional valenciana, e se esmerou em dar aos seus onze filhos uma educação refinada. Sabe-se ainda que foi grande comerciante. (...) Sua inteligência o levou a uma escalada de ascensão social, e tudo fez para ficar mais próximo da cidade imperial, quando em 1891, adquiriu o palacete da família Mayrink, localizada em frente ao palácio imperial de Petrópolis.
O palacete em questão é o Palácio Amarelo, em Petrópolis, construído por José Carlos Mayrink da Silva Ferrão em 1850. Atualmente o edífício é a sede da Câmara Municipal de Petrópolis.

Palácio Amarelo

Petrópolis possui ainda inúmeros exemplares de palácios e palacetes que remontam ao Brasil Imperial. Alguns membros da Família Imperial ainda residem no Palácio do Grão-Pará, em Petrópolis, utilizado na época como casarão dos empregados da família imperial. Merecem destaque ainda:
  • Casa da Princesa Isabel - pertenceu ao Barão do Pilar e foi vendida à Princesa Isabel e ao Conde d'Eu em 1876, onde moraram até a Proclamação da República;
  • Palácio Rio Negro - construído pelo Barão do Rio Negro em 1889 - Residência Oficial de Verão da Presidência da República;
  • Casa da Ipiranga - casarão em estilo vitoriano de 1884;
  • Solar Dom Afonso - construção de 1875 onde funciona hoje o Hotel Solar do Império.
Mas não só Petrópolis e Rio de Janeiro foram agraciados com palácios e palacetes da época do Império. Os casarões dos barões do café espalharam-se por todo o Vale do Paraíba e interior do Estado de São Paulo, mas este também será tema de outra postagem. Então até a próxima!